Há poucos anos, falar sobre relacionamentos abertos era um grande tabu. Não que ainda não seja, mas houve um considerável aumento do interesse em relacionamentos não-monogâmicos nos últimos tempos. Mas isso significa que os relacionamentos “não tradicionais” se tornarão uma tendência nos próximos anos ou décadas?
Antes de partir para o artigo, vale ressaltar que meu intuito aqui não é comentar se esse tipo de relacionamento funciona ou não, mas trazer dados e análises sobre o crescimento do interesse e da adoção dele. Dito isso, vamos para o artigo!
Tipos de relacionamentos não-monogâmicos
Vamos começar apresentando alguns conceitos. Os relacionamentos abertos são um dos tipos de relacionamentos não-monogâmicos, mas costumamos diferenciá-los de um Poliamor, por exemplo.
O poliamor, geralmente, significa ter mais de um relacionamento sério ao mesmo tempo. Já os relacionamentos abertos costumam apresentar um casal principal, mas mais de um parceiro sexual. Ou seja, no poliamor temos mais foco em conexões emocionais, enquanto nas relações abertas as conexões estão mais no âmbito sexual.
Vale lembrar que esses conceitos são gerais e existem diferentes formas de viver um relacionamento aberto.
‘Regras’ e acordos
As relações abertas são vividas de formas diferentes, a depender dos acordos e regras firmadas pelo casal. Para algumas pessoas, a abertura pode significar um “passe livre” para encontros casuais. Para outros casais, pode se tratar de sexo do casal com outros casais, por exemplo. Alguns também podem permitir que haja relações com outras pessoas, mas que estas não sejam conhecidas do outro membro do casal.
Independente do formato, para que esses relacionamentos funcionem, as regras e acordos são parte importante para o bom funcionamento da relação.
Qual é o perfil dos interessados em relacionamentos abertos?
O interesse pelos relacionamentos abertos cresceu junto com a popularização dos aplicativos de relacionamentos. Inclusive, alguns aplicativos trazem números sobre esse interesse.
Recentemente, o Tinder adicionou a opção “Tipo de Relacionamento”, que permite que o usuário indique em seu perfil que tipo de relacionamento ele procura. Dados divulgados pelo aplicativo em 2023 mostram que, enquanto 52% dos jovens de 18 a 25 anos preferem relacionamentos monogâmicos, 41% deles estão abertos ou buscam relacionamentos não monogâmicos, sendo entre estes os mais populares relacionamentos abertos (36%) e poliamor (26%).
Já os dados da OkCupid indicam que “Embora a maioria dos participantes do OkCupid busque relacionamentos monogâmicos, a quantidade de usuários buscando relacionamentos não monogâmicos aumentou em 7% em 2021”. Além disso, dos usuários que responderam à pergunta “você consideraria ter um relacionamento aberto?”, em 2022 31% afirmaram que sim, enquanto em 2021 esse percentual foi de 29% e em 2020 foi 26%.
Hinge, outro aplicativo de relacionamentos, divulgou dados em 2022 que apontaram que 1 em cada 5 usuários consideraria viver um relacionamento aberto. E 1 em cada 10 já tiveram um relacionamento não-monogâmico. Logan Ury, diretora de ciência do relacionamento, comentou ainda que esse aumento pode ser um efeito da pandemia, já que ela acredita que “foi a oportunidade perfeita para fazer uma pausa e pensar mais no que queremos”.
Mas os relacionamentos abertos realmente são uma tendência?
“As pesquisas, incluindo as de opinião pública, indicam que a postura relativa à não-monogamia consensual, de forma geral, é principalmente negativa, embora pareça haver tendência mais positiva nos últimos anos”, segundo Justin Lehmiller, membro de pesquisa do Instituto Kinsey, nos Estados Unidos, e apresentador do podcast Sex and Psychology.
A pesquisa sobre fantasias sexuais, conduzida por Lehmiller, concluiu que “a maioria das pessoas já fantasiou ser não-monogâmico de alguma forma, como participando de trocas de casais, abrindo seu relacionamento ou adotando o poliamor”. No entanto, “relativamente poucas pessoas estão praticando isso na vida real”.
Apesar do crescimento do interesse pelas formas não tradicionais de relacionamentos em determinadas “bolhas”, os relacionamentos abertos ainda são tabus e existem várias barreiras que atrapalham que eles realmente se tornem uma “tendência global”. Crenças, culturas, preconceitos… esses e outros pontos ainda são questões, principalmente em locais e contextos mais conservadores. No entanto, é fato que houve o aumento não só das discussões e do interesse pelo assunto, mas também da adoção dos relacionamentos abertos, principalmente entre as gerações mais jovens.