Autossabotagem afetiva: por que nos afastamos de quem realmente nos faz bem?

Autossabotagem afetiva: por que nos afastamos de quem realmente nos faz bem?

Em teoria, todos nós desejamos relações saudáveis, que tragam leveza, apoio e bem-estar. No entanto, na prática, nos vemos sabotando justamente esses vínculos que poderiam nos fortalecer. Esse movimento paradoxal recebe o nome de autossabotagem afetiva.

O que é autossabotagem afetiva?

Muitas vezes, nos afastamos de quem nos faz bem, mesmo sem querer. A autossabotagem afetiva é um processo inconsciente em que dificultamos a presença destas pessoas, mesmo quando o desejo consciente é de estar próximo delas.

Esse fenômeno pode se manifestar de formas sutis como adiar encontros, evitar conversas profundas ou criar conflitos sem motivo aparente, até atitudes mais drásticas, como o rompimento repentino de relações. Assim, em vez de se aproximar de quem lhe faz bem, a tendência pode ser recuar, levantar barreiras ou, em casos mais extremos, rejeitar justamente quem oferece amor e cuidado.

Origens emocionais e padrões aprendidos

Histórias de rejeição e abandono

Experiências passadas de rejeição ou ausência emocional (na infância ou em relacionamentos anteriores) podem moldar a forma como nos relacionamos. Nesses casos, quando encontramos relações saudáveis na vida adulta, surge uma sensação de estranhamento: se o afeto antes estava sempre associado a dor, pode ser que o cuidado desperte desconfiança em vez de acolhimento.

Crenças de não merecimento

Outro fator central é a crença de que não se é digno de receber amor. Pessoas que internalizam ideias negativas sobre si mesmas (“não sou suficiente”, “não mereço carinho”, “as pessoas vão me abandonar”) tendem a agir de forma a confirmar essas convicções. Essa lógica, mesmo inconsciente, se transforma em um ciclo: quanto mais a pessoa acredita que não merece afeto, mais se distancia de quem poderia oferecê-lo, reforçando a ideia de inadequação.

Como a autossabotagem se manifesta

A autossabotagem pode assumir diferentes formas, nem sempre fáceis de perceber no cotidiano. Entre as mais comuns estão:

  • Distanciamento emocional: evitar diálogos íntimos, falar pouco sobre si ou manter barreiras emocionais.
  • Busca por defeitos: supervalorizar pequenas falhas do outro para justificar o afastamento.
  • Antecipação da rejeição: agir como se a relação fosse fracassar em breve, mesmo sem evidências.
  • Criação de conflitos: provocar discussões ou resistências para afastar quem oferece proximidade.
  • Fuga dos momentos bons: sentir-se desconfortável diante do cuidado, carinho ou estabilidade, e procurar meios de romper o equilíbrio.

Em todos esses casos, o movimento interno é o mesmo: evitar a vulnerabilidade. Se permitir ser cuidado significa correr o risco de perder esse cuidado no futuro, e muitas pessoas preferem não se abrir à esta possibilidade.

O papel da vulnerabilidade nas relações saudáveis

Aceitar o afeto exige uma postura vulnerável. É reconhecer que não temos controle total sobre o outro e que, ao abrir espaço para ser amado, nos tornamos suscetíveis à perda, à rejeição ou à frustração. Para quem carrega feridas emocionais, essa abertura pode ser assustadora.

No entanto, é justamente na vulnerabilidade que se constroem relações profundas e autênticas. Assim, a autossabotagem não protege de sofrimentos, mas nos priva da possibilidade de viver relações verdadeiramente nutritivas.

Caminhos para a transformação

Superar a autossabotagem não significa deixar de sentir medo ou insegurança, mas aprender a lidar com esses sentimentos de forma consciente. Alguns passos importantes são:

  • Reconhecer o padrão: o primeiro passo é identificar os momentos em que distanciamos quem nos valoriza. Isso exige observar não apenas de ações, mas também de sentimentos e narrativas internas.
  • Cuidar da própria autoestima: aprofundar a crença de merecimento, investir em autocuidado emocional e reconhecer que estar bem com alguém não é privilégio, mas um direito.
  • Comunicação sincera: falar sobre os próprios medos e inseguranças com pessoas cuidadosas e dispostas a ouvir. A vulnerabilidade compartilhada pode fortalecer os vínculos.
  • Psicoterapia como suporte: a terapia ajuda a ressignificar experiências passadas, reanalisar crenças e construir um modo de se relacionar mais seguro, acolhedor e aberto.

Por que insistir em vínculos que nos fazem bem?

Permitir-se viver relações saudáveis é mais do que um desejo, é uma necessidade emocional. Vínculos seguros estão diretamente ligados à saúde mental, ao equilíbrio emocional e até ao bem-estar físico. Pessoas que conseguem se conectar de forma autêntica experimentam maior resiliência diante de crises e uma sensação ampliada de pertencimento.

Ao superar a autossabotagem, damos a nós mesmos a oportunidade de descobrir que o afeto não precisa ser sinônimo de dor. Pelo contrário: relações saudáveis podem se tornar fonte de crescimento, confiança e transformação pessoal.

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