Engana-se quem pensa que o relacionamento abusivo se restringe somente aos casais, no âmbito romântico. Ele pode acontecer também entre amigos, família e no trabalho. Mas, o que caracteriza o relacionamento abusivo? Algumas pessoas acreditam que é quando acontece uma agressão física, mas não é só isso. Existem outras formas de abusos psicológicos que machucam e deixam marcas para a vida toda.
Quando uma pessoa se aproveita da vulnerabilidade ou fragilidade da outra, ou tenha qualquer comportamento com a intenção de intimidar, manipular, humilhar, magoar ou ferir o outro, isto pode ser considerado um comportamento abusivo. É uma relação tóxica, quando uma das partes toma posição de poder para controlar a outra, sem necessariamente usar a violência física, mas com base na intimidação e manipulação. Por questões estatísticas e do machismo estrutural, a vítima é, geralmente, do sexo feminino, mas também vemos casos de relacionamentos abusivos onde a vítima é o homem e entre casais LGBTQIA+.
Muitas pessoas têm dificuldade de enxergar que estão vivendo um relacionamento abusivo, pois, normalmente no início, o abusador começa de uma forma bem sutil, e muitos sinais de alerta podem ser confundidos com demonstrações de afeto, quando falamos de relacionamentos amorosos. Infelizmente é comum vermos a romantização de algumas atitudes prejudiciais como ciúmes excessivos ou controle sobre o que a pessoa veste e com quem ela se relaciona sob a justificativa de proteção.
Quando percebe que há algo errado, a vítima já está tão envolvida emocional e psicologicamente, que fica difícil se desvencilhar do(a) parceiro(a). Atitudes como demonstrar ciúmes com muita frequência, pedir para se afastar de amigos ou familiares com a desculpa de que não são “boa companhia”, controlar a vida financeira da(o) parceira(o), desrespeito com outras pessoas, chantagens emocionais, manipulação psicológica, colocar a culpa no outro quando tem alguma atitude desequilibrada, são sinais de alerta.
Quem já viveu um relacionamento tóxico sabe que os abusos sofridos deixam marcas profundas, tanto físicas, quanto psicológicas. A vítima sai de um relacionamento abusivo com a saúde mental totalmente fragilizada e autoestima extremamente abalada, prejudicando seu senso de merecimento em todas as esferas da vida. Ao mesmo tempo, a vítima acaba se tornando insegura e vulnerável a entrar em outra relação tóxica. Por isso, é importante não ter vergonha de falar sobre o assunto e buscar uma rede de apoio e acompanhamento psicológico.
Vale lembrar que sair de um relacionamento abusivo não significa passar uma borracha no passado e seguir a vida como se nada tivesse acontecido. As cicatrizes emocionais podem durar para sempre. Lidar com medo, solidão, desafios financeiros e carreira, sem uma rede de apoio, não é fácil. A ajuda de um psicólogo é essencial para a superação dos traumas e seguir em frente. Embora a mistura de sentimentos de raiva, rancor e mágoa sejam compreensíveis após o término, é importante não se deixar levar por eles e trabalhar esses sentimentos na terapia.