Parece mentira, mas ainda existe muita gente que acredita que a homossexualidade é uma doença que pode ser curada através de intervenções médicas (caso se descubra uma causa biológica para a orientação sexual), psicológicas ou religiosas. Estes tipos de terapias são chamadas “terapias de re-orientação sexual”, “reparativas” ou de “conversão”. Pessoalmente, prefiro utilizar o termo “terapias de conversão”, pois acredito que ele exprime melhor o pensamento religioso e moral que caracteriza estas intervenções.
Podemos definir como terapia de conversão qualquer processo que vise transformar gays e lésbicas em heterossexuais, baseado na crença de que a homossexualidade é uma doença, uma interrupção no desenvolvimento “normal”, ou um pecado. As terapias de conversão usam técnicas psicológicas (baseadas em distorções de teorias psicanalíticas e comportamentais) misturadas, às vezes, com práticas religiosas (tais como retiros espirituais, sessões de reza ou exorcismo). Nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil, existem diversas associações que fazem este tipo de terapia, grupos estes formados por psicólogos, religiosos fundamentalistas e políticos de extrema direita. Apesar de se apresentarem como profissionais que desejam “ajudar” os homossexuais, o objetivo final destas associações é o de fazer com que a homossexualidade seja novamente considerada uma doença. A decorrência deste tipo de pensamento é acreditar que, se os homossexuais são pessoas doentes, eles não podem ter os mesmos direitos legais dos demais cidadãos.
A principal crítica que se faz às terapias de conversão é que a homossexualidade não é uma doença, e, se não há doença, não pode haver cura. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Associação Psiquiátrica Americana retirou a homossexualidade do seu “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” em 1973, concluindo que esta orientação sexual não é um distúrbio mental. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina fez o mesmo em 1985, e a Organização Mundial de Saúde também retirou a homossexualidade de sua Classificação Internacional de Doenças em 1993. Entre 1997 e 1998, tanto a Associação Psiquiátrica Americana, quanto a Associação Psicológica Americana, declararam sua oposição a qualquer forma de tratamento psicológico baseado na ideia de que a homossexualidade é um distúrbio mental ou que a orientação homossexual deve ser modificada. No Brasil a situação é similar, isto é, o Conselho Federal de Psicologia “considerando que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio, nem perversão” também estabelece no artigo 3 de sua resolução de março de 1999 que “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”. Devido à crescente repercussão na mídia do tema das terapias de conversão, o mesmo Conselho Federal de Psicologia reiterou os princípios da resolução anterior no seu oficio circular 222/03 de setembro de 2003.
Neste momento o leitor pode estar se perguntando o motivo pelo qual as terapias de conversão são proibidas. A resposta é que elas simplesmente não funcionam, além de causarem danos psicológicos graves em gays e lésbicas que tentam, em vão, se transformarem em heterossexuais. Nos últimos 40 anos, nenhuma pesquisa séria e cientificamente rigorosa foi capaz de confirmar a eficácia destas terapias. Com frequência, os relatos de “cura” provêm de indivíduos religiosos que se auto-denominam “ex-gays”, isto é, que conseguiram, segundo eles, libertar-se do pecado da homossexualidade.
Como se a falta de provas científicas sobre sua eficácia não fosse suficiente, as terapias de conversão provocam efeitos extremamente negativos sobre os indivíduos que se submetem a elas. Após uma tentativa malsucedida de mudança de orientação sexual, os pacientes desenvolvem baixa autoestima, culpa, comportamento autodestrutivo, depressão (chegando, inclusive, a casos de suicídio), ansiedade, isolamento social, evitação de intimidade, disfunções sexuais, e preocupações religiosas/espirituais.
Felizmente, alguns destes indivíduos decidem buscar psicólogos afirmativos que os ajudem a superar o preconceito internalizado (o ódio que a pessoa sente de si mesma pelo fato de ser homossexual), motivo pelo qual o sujeito procurou a terapia de conversão em primeiro lugar. Na verdade, visto que a orientação sexual não está correlacionada com saúde mental, um indivíduo que sofre por causa de sua homossexualidade o faz devido ao preconceito da sociedade, isto sim devendo ser modificado.