O sono tem um papel primordial na qualidade de vida e na manutenção das funções cognitivas. Por isso, há anos a relação entre sono e saúde mental vem sendo alvo de estudos por diversos pesquisadores da área.
Um artigo recente, publicado pela Harvard Health Publishing, identificou que os problemas crônicos do sono afetam de 50% a 80% dos pacientes com alguma doença psiquiátrica, enquanto esse número é de 10% a 18% quando considerada a população geral adulta dos EUA. Segundo a pesquisa, esses problemas são comuns em pacientes com ansiedade, depressão, transtorno bipolar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Por esses e outros estudos, é notória a relação entre sono e saúde mental, já que o sono influencia diretamente na estabilidade física, mental e emocional.
Quais são as funções do sono e como ele afeta a saúde mental?
O sono exerce diversas funções no corpo, dentre as principais estão o fortalecimento do sistema imunológico, a reparação das células e tecidos, além de auxiliar em questões como metabolismo e memória.
Quando o assunto é saúde mental, a falta de qualidade do sono pode afetá-la de diversas maneiras. Problemas de memória, dificuldade de concentração, redução do desempenho no trabalho ou na escola, dificuldade nos relacionamentos interpessoais, esses são alguns dos diversos prejuízos causados pela falta de sono e que podem ajudar a desencadear transtornos psicológicos.
Além disso, segundo o artigo de Harvard, atualmente é sabido que a interrupção do sono afeta os níveis de neurotransmissores e dos hormônios do estresse, prejudicando funções cerebrais, incluindo o pensamento, atingindo a regulação emocional. Desse modo, distúrbios do sono podem amplificar os efeitos dos transtornos psiquiátricos e vice-versa.
Quais são os principais distúrbios mentais relacionados ao sono?
Dados reunidos no artigo da Harvard Health Publishing indicaram os principais transtornos mentais afetados pelo sono, confira abaixo:
Depressão
Estudos utilizando diferentes métodos e populações estimam que 65% a 90% dos pacientes adultos e cerca de 90% das crianças com Transtorno Depressivo Maior apresentam algum tipo de problema de sono. Adicionalmente, estudos relatam que pacientes com depressão que continuam a ter insônia são menos propensos a responder ao tratamento do que aqueles sem problemas de sono.
Transtorno Bipolar
Estudos em diferentes populações relatam que 69% a 99% dos pacientes apresentam insônia ou relatam menos necessidade de sono durante um episódio maníaco. Na depressão bipolar, no entanto, estudos relatam que 23% a 78% dos pacientes dormem excessivamente (hipersonia). Esses problemas de sono também podem afetar negativamente o humor, contribuindo para uma recaída.
Transtornos de Ansiedade
Segundo pesquisas, os problemas do sono afetam mais de 50% dos pacientes adultos com Transtorno de Ansiedade Generalizada. Já nos resultados de um estudo longitudinal com adolescentes, os problemas de sono precederam os transtornos de ansiedade em 27% das vezes. Nesses casos, a falta de qualidade do sono pode piorar os sintomas dos transtornos de ansiedade e atrapalhar a recuperação.
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
Estudos indicam que problemas de sono são observados em 25% a 50% das crianças com TDAH, desencadeando problemas como hiperatividade, desatenção e instabilidade emocional. Os distúrbios respiratórios do sono afetam até 25% das crianças com TDAH, e o distúrbio do movimento periódico dos membros e a síndrome das pernas inquietas afetam até 36%.
Como melhorar a qualidade do sono?
O tratamento dos distúrbios do sono costuma envolver uma combinação de ações. Mudança de hábitos como prática regular de exercícios físicos e técnicas de relaxamento e higiene do sono são fortemente recomendadas, além da Terapia Cognitiva Comportamental e, se necessário, a indicação de medicamentos.
No caso da higiene do sono, alguns hábitos são sugeridos, como manter um horário regular para dormir e acordar, se desligar de aparelhos eletrônicos próximo da hora de dormir, manter o ambiente escuro e relaxante, entre outras ações.
Além dessas técnicas, a Terapia Cognitiva Comportamental tem papel fundamental na melhora da qualidade de vida e do sono. Pessoas com insônia, por exemplo, tendem a se preocupar previamente e acreditar que não vão conseguir adormecer. A TCC pode ajudar a mudar essas expectativas e aumentar o otimismo para alcançar uma boa noite de sono.
Fonte:
https://www.health.harvard.edu/newsletter_article/sleep-and-mental-health