Culpa e vergonha são sentimentos desconfortáveis, presentes em muitos de nós, e que muitas vezes surgem misturados. Você sabe as diferenças entre eles e as consequências para a nossa saúde mental? Compreender isso pode aumentar muito o nosso grau de bem-estar.
A culpa é uma emoção que costuma surgir em três momentos principais: quando percebemos que fizemos algo errado (segundo valores pessoais ou sociais); quando causamos mal a alguém (na realidade ou na imaginação), ou quando nos afastamos dos nossos valores centrais (isto é, do tipo de pessoa que gostaríamos de ser). Porém, nem todo ser humano possui a capacidade de sentir culpa, já que ela envolve a habilidade de se colocar no lugar do outro. Pessoas que sofrem de Transtorno de Personalidade Antissocial – popularmente conhecidos como psicopatas e sociopatas – são um exemplo disto.
A vergonha é parecida com a culpa, mas vai além. Quando sentimos vergonha, não apenas percebemos que fizemos algo errado, mas também nos enxergamos como pessoas ruins, não merecedoras de amor e de aceitação. Esta imagem negativa que criamos para nós mesmos costuma ser passageira, ativada em determinadas situações, mas em alguns casos pode se tornar constante. E aí é que mora o perigo.
Em mais de vinte anos como terapeuta tenho percebido que culpa e vergonha são temas recorrentes entre os pacientes adultos. No entanto, os pesquisadores têm focado mais no sentimento de vergonha por este ser um elemento importante de diversas psicopatologias graves, como dependência química, transtornos compulsivos, automutilação, depressão e ansiedade. Não é por acaso que a vergonha, às vezes, é acompanhada de sensações físicas semelhantes às de ansiedade, incluindo “aperto no peito” e desconforto gastrointestinal. Já pensou a respeito disso?
Sentimos tamanho incômodo porque somos seres sociais: a ideia de sermos avaliados negativamente por outras pessoas, ou de sofrermos hostilidade e rejeição, é angustiante. A vergonha dói porque costuma ativar aquele velho pensamento “será que vão gostar de mim sabendo o que eu fiz?”. Não importa a gravidade do ato transgressor que gerou a vergonha; o que vale é o medo que a pessoa tem de ser “descoberta”. A sensação negativa é tão marcante que alguns pacientes acabam evitando situações, pessoas, lugares, e atividades que possam ser gatilhos para a vergonha, tornando-se assim reféns do sentimento.
A maioria das pessoas já sentiu culpa e vergonha ao longo da vida, tanto por coisas que fez, quanto por aquelas que deveria ter feito. Ambas as sensações são normais e saudáveis, guardadas as devidas proporções. No entanto, se você percebe que passa grande parte do seu tempo revivendo lembranças dolorosas, adotando comportamentos autodestrutivos, ou se isolando socialmente, de forma a evitar estas emoções, busque ajuda de um psicólogo. Na Terapia Cognitiva, a culpa e vergonha não vão desaparecer da noite para o dia, mas você aprenderá formas mais saudáveis de identificar e de lidar com elas.