O preconceito social e o estigma em relação à população LGBTQIA+ ainda são muito presentes no Brasil e em diversos países do mundo. O que poderia ser um processo bonito, natural e individual da descoberta de seu corpo e sua sexualidade, pode virar um verdadeiro pesadelo quando o indivíduo se encontra em um ambiente hostil e preconceituoso.
Não é à toa que vários estudos recentes apontam para índices elevados de diagnósticos de transtornos mentais em pessoas da comunidade. A saúde mental, com certeza, é uma pauta que precisa de atenção extra.
O que dizem os estudos?
Dando um breve contexto histórico, há poucas décadas, a homossexualidade ainda era considerada uma doença psiquiátrica. Foi só no dia 17 de maio de 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) removeu a homossexualidade da lista de doenças.
Como vimos desde então, o ato não acabou com o preconceito e a discriminação na sociedade, mas foi um marco importante para abrir mais discussões sobre o assunto e para a compreensão de que pessoas LGBTQIA+ não precisam de cura.
Apesar de atualmente a homossexualidade não ser mais diagnosticada como um transtorno psiquiátrico, estudos acadêmicos realizados desde então, principalmente nas décadas de 90 e 2000, apontam para índices elevados de diagnósticos de transtornos mentais dentro da comunidade.
Segundo esses estudos, homossexuais apresentariam uma propensão maior do que heterossexuais a desenvolverem transtornos de humor (sobretudo depressão e transtorno bipolar), transtornos de ansiedade (particularmente transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias simples e agorafobia), sintomas psicossomáticos, se preocuparem e se sentirem insatisfeitos com sua saúde mental, e utilizarem serviços de saúde mental e medicação psiquiátrica. Importante ressaltar aqui que o preconceito ao qual esta população está submetida é um elemento crucial no desenvolvimento e progressão destes transtornos. A orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa não determina se ela irá desenvolver ou não algum transtorno mental ao longo da vida.
Além de artigos acadêmicos, uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada durante a pandemia e publicada em 2021, identificou que 55% da população LGBTQIA+ teve piora na saúde mental neste período de Covid-19. E, sim, a pandemia impactou a vida de todos nós, mas a Fiocruz aponta que os impactos são mais acentuados de acordo com marcadores sociais, que incluem raça, gênero, classe social, territórios, dinâmica social e econômica e a sexualidade.
Na pesquisa, mais da metade dos consultados (55,1%) respondeu considerar que estão em condições de saúde mental piores em 2021, se comparado a 2020, após 1 anos de pandemia. Cerca de 55% foram diagnosticados com o risco de depressão no nível mais severo, índice quase 8% a mais que na pesquisa de 2020 (47%).
Segundo o estudo, 30% das pessoas já haviam recebido diagnóstico prévio de depressão e 47,5% para ansiedade. Os números representam um aumento de 2% para as duas condições clínicas em comparação com a pesquisa de 2020, que foi de 28% para depressão e de 45,3% para ansiedade.
Entre os fatores mais citados pelos pesquisados para a piora na saúde mental, estão a perda de renda e vulnerabilidade material, adoecimento e perda de parentes e amigos, ausência de convívio social, além de falta de espaço físico e de perspectivas.
O papel da Terapia Afirmativa
Com todas essas pesquisas conduzidas, estudiosos da área da psicologia desenvolveram uma condução terapêutica específica para pessoas LGBTQIA+, a Terapia Afirmativa. A terapia afirmativa se concentra em questões de gênero e sexualidade, levando sempre em consideração não só padrões de comportamento da sociedade diante desses grupos, mas também suas vivências particulares.
Um fator importante a se ressaltar quanto à terapia afirmativa é que ela não é indicada devido ao gênero ou orientação sexual do indivíduo – algo particular e que não é, em sua essência, a causa de angústias ou sofrimento -, mas sim devido ao ambiente no qual este indivíduo está inserido, muitas vezes, repleto de julgamentos e hostilidade. O principal objetivo da terapia afirmativa é oferecer melhor qualidade de vida e bem-estar.
Para quem é indicada a Terapia Afirmativa?
Mesmo que a pessoa viva em um ambiente saudável e livre de preconceitos, dificilmente encontrará esse mesmo ambiente ao longo de toda a sua vida, em todos os círculos sociais que frequenta. Por isso, a terapia afirmativa pode ser indicada para qualquer pessoa que não se sinta respeitada e acolhida em suas escolhas, e que sofra consequências dessa postura do outro em sua vida.
É importante lembrar que não podemos mudar o outro, mas por meio do autoconhecimento podemos encontrar melhores maneiras de lidar com nossas vivências, com ferramentas que nos auxiliam em nosso bem-estar físico e emocional. A terapia afirmativa se diferencia das demais por ser embasada em estudos específicos de comportamentos sociais que se repetem e, portanto, podem ser mais comuns dentro dos grupos LGBTQIA+.
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