O que poderia ser um processo bonito, delicado, natural e individual da descoberta de seu corpo e suas vontades sexuais, pode virar um verdadeiro pesadelo quando o indivíduo se encontra em um ambiente hostil e preconceituoso, que aceita como válido somente as opções impostas pela sociedade onde se vive. O que era para ser particular, se torna público e as opiniões dos outros, mesmo que não devessem, interferem diretamente nestas decisões.
O preconceito social e o estigma em relação aos não heterocisnormativos são tão presentes ainda no Brasil e em diversos outros países, que há anos vêm sendo realizadas pesquisas e estudos conduzidos por psicólogos sobre o que denominou-se “terapia afirmativa”, uma condução terapêutica específica para pessoas LGBTQIA+.
O que é a terapia afirmativa?
A terapia afirmativa se concentra em questões de gênero e sexualidade, levando sempre em consideração não só padrões de comportamento da sociedade diante desses grupos, mas também suas vivências particulares. Estas podem variar bastante, principalmente de acordo com raça e classe social, por exemplo.
Um fator importante a se ressaltar quanto à terapia afirmativa é que ela não é indicada devido ao gênero ou orientação sexual do indivíduo – algo particular e que não é, em sua essência, a causa de angústias ou sofrimento -, mas sim devido ao ambiente no qual este indivíduo está inserido, muitas vezes, repleto de julgamentos e hostilidade. O principal objetivo da terapia afirmativa é oferecer ao indivíduo melhor qualidade de vida e bem-estar.
Indicação
Mesmo que o indivíduo que opta por um gênero ou sexualidade diferente da esperada por sua família, amigos ou pela sociedade em geral, viva em um ambiente saudável e livre de preconceitos, dificilmente encontrará esse mesmo ambiente ao longo de toda a sua vida, em todos os círculos sociais que frequenta.
Por isso, a terapia afirmativa pode ser indicada para qualquer pessoa que não se sinta respeitada e acolhida em suas escolhas, e que sofra consequências dessa postura do outro em sua vida. A discriminação e a marginalização ainda são realidades, mesmo que o país tenha caminhado pequenos passos contra o preconceito nos últimos anos.
Situações reais
São inúmeras as situações que podem receber o apoio da terapia afirmativa. Desde o momento em que se decide dividir com amigos e familiares suas orientações de gênero ou sexualidade; passando por dificuldades particulares de atender suas próprias expectativas diante de situações que surgem depois desse momento de aceitação; a vivência de situações constrangedoras, preconceituosas e até criminosas no ambiente familiar ou corporativo; etc.
Quando não se tem apoio ou até mesmo conhecimento, situações como essas podem levar ao aumento de transtornos mentais, uso de drogas ilícitas e outros problemas de saúde ainda mais graves, como depressão e suicídio.
A terapia afirmativa na prática
Ao longo das sessões, o psicólogo aborda as experiências vividas pelo indivíduo e trabalha em cima de sua autoestima, autoconfiança e autocontrole. Nem sempre apenas com ele, mas se necessário envolvendo também pais, mães, parentes e amigos que estejam dispostos a ajudar na compreensão de todos e em seu acolhimento.
Na terapia afirmativa, o indivíduo tem um espaço livre para falar abertamente sobre todas as situações e vivências experimentadas que lhe trouxeram algum tipo de desconforto e sua dificuldade em lidar com elas. Junto ao terapeuta, pode revisitar sua história e ressignificá-la, entendendo como cada experiência influencia quem ele é hoje e em como lida com as adversidades que surgem. Caso seja relatada ou identificada alguma psicopatologia, como ansiedade e depressão, essa também será tratada durante a terapia.
Eu e o outro
É importante lembrar que não podemos mudar o outro, mas por meio do autoconhecimento podemos encontrar melhores maneiras de lidar com nossas vivências, com ferramentas que nos auxiliam em nosso bem-estar físico e emocional. A terapia afirmativa se diferencia das demais por ser embasada em estudos específicos de comportamentos sociais que se repetem e, portanto, podem ser mais comuns dentro dos grupos LGBTQIA+.