Quem já perdeu um animal de estimação, conhece bem a dor de quando ele morre. Qualquer bichinho que faça parte da nossa vida – seja ele um cão, gato, pássaro, cavalo, ou até mesmo um peixe – ganha, ao longo dos anos, um significado cada vez maior para nós. Com ele dividimos a nossa rotina, nosso espaço, nossos medos e desejos.
O luto pela perda de animais é o que nós, psicólogos, chamamos de luto não reconhecido ou luto não autorizado. Ele é um tipo de luto que foge às normas socialmente estabelecidas, “que tentam especificar quem, quando, onde, como, quanto e por quem pessoas deveriam lamentar”, explica o Dr. Kenneth Doka, especialista da Universidade de Nova Rochelle, nos EUA. É por isso que quando perdemos nossos animaizinhos ouvimos frases tipo: “mas era apenas um cachorro!” ou “você está chorando assim por causa de um gato? Compra outro…”.
O fato de a perda de um animal não ser legitimada pela sociedade dificulta muito a nossa recuperação. Ficamos privados de apoio social e de rituais de despedida, como velórios, enterros, cremações e missas. Sentimos vergonha do tamanho do nosso sofrimento e questionamos o motivo de estarmos respondendo àquela perda de forma aparentemente desproporcional.
Muito mais que um animal
Nós, humanos, somos seres complexos e muito sensíveis. Os animais domésticos têm uma profunda ligação afetiva conosco, às vezes mais intensa do que a estabelecida com outros membros da família ou amigos. Mesmo que não sejam animais de serviço (como cães-guia) ou de apoio emocional, todos funcionam como nossos terapeutas não-humanos.
A presença dos bichinhos nos traz companhia e reduz sentimentos de solidão, depressão e ansiedade. Cuidar deles aumenta a nossa autoestima e nossa sensação de bem-estar. Quando eles morrem, perdemos uma fonte importante de suporte emocional.
A morte de um animal de estimação também quebra nossa rotina, pois cuidar de um bichinho envolve adaptar o nosso dia a dia para isso. Caminhamos pelo bairro para passear com o cão, conhecemos outras pessoas e animais, acordamos mais cedo para dar comida, lavar vasilhas ou trocar a areia da caixinha. Perder um animal significa interromper os nossos hábitos, o que por sua vez pode levar a um questionamento do propósito da vida, algo especialmente delicado para pessoas solitárias ou idosas.
O fim dessa relação pode inclusive mudar aspectos da nossa própria identidade social. No bairro ficamos conhecidos como “o dono do Zeus”, ou “a mãe da Lili”. Nas redes sociais criamos perfis para eles e recebemos reforço por isso. A morte altera esta dinâmica de forma abrupta.
A morte de um animal querido faz ainda com que revisitemos perdas que sofremos ao longo da vida, o que complica ainda mais a nossa recuperação. Por isso, é fundamental reconhecermos a dor do luto e lidarmos com ela de forma apropriada.
O que podemos fazer ao perder um animal de estimação?
- Respeitar o luto e a dor, pois eles são únicos a nós. Não devemos nos comparar com outras pessoas, pois cada um sabe do significado que um animal pode ter (ou teve) na sua vida. Temos tempos de recuperação e reações diferentes à uma perda. O sofrimento faz parte desse aprendizado e é importante que seja vivido.
- Pedir ajuda para amigos e parentes que se mostrarem receptivos. Não devemos ter vergonha. O ideal é dar preferência a pessoas que tenham animais e/ou que gostem deles, para que possamos falar abertamente.
- Conversar com o veterinário durante os momentos mais difíceis. Muitos, inclusive, já possuem formação na área de luto.
- Explicar a situação para as crianças e deixar que elas se expressem. Para muitas crianças esta pode ser sua primeira experiência de perda ou luto. Não devemos mentir ou criar histórias fantasiosas.
- Criar rituais para ajudar a elaborar a perda. Podemos enterrar o bichinho, montar um álbum de fotos, fazer uma doação para um abrigo de animais em sua homenagem, ou guardar algum objeto mais significativo. O importante é que o ritual faça sentido para a gente e ajude a lembrar dos bons momentos que tivemos ao seu lado.
- Adotar um novo animal para canalizar o nosso amor e atenção. No entanto, devemos lembrar que nenhum bichinho substitui o outro. Cada um terá o seu comportamento e a sua história conosco.
- Caso a dor seja muito grande, procurar a ajuda de um psicólogo, de preferência alguém especializado em terapia de luto.
Na foto eu apareço ao lado do meu labrador, Hugo. Ele morreu de doença cardíaca em 2013, com 14 anos de idade. O Hugo dormia no meu quarto e me ajudava quando eu tinha insônia. Sou eternamente grata ao tempo que passamos juntos.