A Psico-Oncologia como aliada ao combate do câncer

A Psico-Oncologia como aliada ao combate do câncer

Leia a seguir a entrevista com a psicóloga Cristiane Lang, formada pela Universidade Católica Dom Bosco (Campo Grande, MS), pós-graduada em Oncologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, SP.

1- Como é a abordagem da Psico-Oncologia? Ela visa garantir a qualidade de vida do indivíduo e estimular o autocuidado durante o tratamento?

Sim, além de qualidade de vida e autocuidado, o psicólogo irá promover um melhor
ajustamento à doença, o que irá reduzir distúrbios emocionais como ansiedade e
depressão, uma melhor adesão ao tratamento e diminuição dos sintomas adversos que são associados ao câncer e aos tratamentos da doença, o que poderá resultar até mesmo em um aumento no tempo de sobrevida.

2- Em que momento o acolhimento psicológico deve começar?

No exato momento do diagnóstico. O acolhimento psicológico
visa acolher e responder a demanda no exato momento de sua urgência, fazendo com que o psicólogo possa lidar melhor com os recursos e limites na superação das questões pontuais do paciente que possam estar lhe causando maior sofrimento.

3- Quais os principais medos de um paciente que recebe o diagnóstico?

O diagnóstico de câncer de mama costuma ter um efeito devastador na vida das
mulheres que o recebem, seja pelo temor às mutilações e desfigurações que os
tratamentos podem provocar, seja pelo medo da morte, ou pelas diversas perdas, tanto nas esferas emocional, social e material que comumente ocorrem. Assim, o
acolhimento à paciente e a atenção ao impacto emocional causado pela doença são imprescindíveis, e também deverão ser estendidos às suas famílias.

4- Que técnicas têm demonstrado serem mais eficazes para reduzir o sofrimento e a dor? É possível ressignificar a doença?

A dor invoca emoções e fantasias, muitas vezes incapacitantes, que traduzem o
sofrimento, as incertezas, o medo da incapacidade, da desfiguração e da morte. O
psicólogo irá acolher esta paciente por meio da escuta, e usar ferramentas de
enfrentamento para que o sofrimento destas pacientes sejam validados e abrandados. O processo de ressignificação surge no enfrentamento da doença, visto que um enfrentamento adequado irá possibilitar uma melhor adesão ao tratamento, o que pode resultar na remissão da doença, ou pelo menos em uma melhor qualidade de vida para o paciente.

 

 

5- Como tem sido o tratamento de pacientes que descobriram o câncer durante a pandemia? Quais foram os principais desafios?

Pacientes com câncer costumam apresentar imunossupressão, causada pela própria
doença ou pelo seu tratamento, o que faz com que sejam mais suscetíveis a infecções. Infelizmente, correm, portanto, maior risco, com um mau prognóstico. Estimativas recentes das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica são de que desde o início da pandemia, aproximadamente 50 mil pessoas deixaram de obter diagnósticos precisos referentes à descoberta de tumores ou sobre como anda o tratamento.

Outros milhares de pacientes, já com o tumor detectado, tiveram os tratamentos suspensos, conforme alertam também as duas entidades. Estão sendo adotadas medidas para manejo de pacientes oncológicos durante a pandemia, como adiar tratamentos e cirurgias em pacientes que apresentam quadros estáveis da doença, e adotando também outras formas de acompanhamento, via telefone, consultas online, entre outras.

6 – Ao receber o diagnóstico, um paciente com câncer experimenta emoções como negação, revolta, depressão e aceitação? Como a terapia contribui para elaboração desse processo?

O momento do diagnóstico de um câncer sempre é vivido de forma conturbada, pois
evoca pensamentos sobre a morte, e provoca reações emocionais que interferem no
equilíbrio e bem estar do paciente, e o psicólogo age minimizando as reações negativas provenientes deste diagnóstico. A psicoterapia ajuda o paciente a adaptar o tratamento a sua vida, bem como adaptar as visões de si mesmo a esta nova situação, facilitando a aderência ao tratamento, além de oferecer suporte emocional.

7- Como familiares, amigos e colegas de trabalho podem colaborar?

Primeiramente, é importante que os membros da família, colegas de trabalho, amigos, em geral, compreendam seus próprios sentimentos em relação a situação, fazendo com que consigam lidar melhor com este momento e estejam tranquilos antes de fazer uma abordagem.

Atitudes positivas seriam passar tempo com o paciente, perguntar se gostaria de falar sobre a experiência, permitir que ele compartilhe seus medos, oferecer assistência com pequenas tarefas e perguntar no que mais poderia ser útil, oferecendo-se para ouvi-lo sempre que o paciente estiver disposto a compartilhar o que está vivendo. Evite comparar a situação dele com a de outras pessoas, ou minimizar a situação, tentando não demonstrar falso otimismo ou esperança. E, principalmente, evitar sobrecarregar o paciente com seus próprios sentimentos sobre a doença.

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